sábado, 22 de junho de 2013
        Algumas das coisas que vejo nos facebooks e twitters da vida me irrita muito. A gente curte, dá RT e ri na hora por ser engraçado, porém, ao parar para refletir, percebi que algumas coisas vão além da esfera "só pra descontrair". Não estou afirmando que quem postou isso ou aquilo teve alguma intenção além de provocar gargalhada (afinal, alguns dos perfis eram de comediantes), mas acho que deveríamos analisar algumas coisas antes de levá-las ao pé da letra.
       Uma das publicações que mais tenho visto é famosa "Imagina minha vergonha quando, daqui a 30 anos, meus filhos me perguntarem se eu fui à Revolução dos R$00,20 e eu responder que não, porque minha mãe não deixou". Minha realidade, é verdade, entretanto eu me pergunto (levando a postagem mais é sério, é claro), estamos indo aos protestos para termos orgulho de dizer que lutamos pelos nossos direitos, ou simplesmente porque será bonito, daqui a alguns, se o Brasil estiver melhor (não me levem a mal, mas não acredito que todas essas manifestações possam fazer com o Brasil sofra uma mudança efetiva e duradoura). dizer que participamos deste movimento? 
        Outra postagem que vi esses dias no perfil de um amigo dizia mais ou menos isso: Acham que compartilhando coisas dos protestos fazem alguma coisa. Ajudariam muito mais se realmente FOSSEM aos protesto #vemprarua.  Claro que ele disse isso nas melhores das intenções, e claro que existe muita gente que acredita estar ajudando ao postar algo do gênero, mas... E quem não pode fazer nada exceto divulgar o movimento? E quem os pais não deixaram ir se manifestar, fosse por medo da polícia ou dos vândalos?
        Acho que as pessoas deveriam parar de generalizar e pensar um pouco nas exceções. Elas podem se irritar. Eu já estou me irritando.


P.S.: Não levem muito a sério o que escrevi, foi só uma forma de extravasar minha irritação com posts desse tipo. Mas, como é de praxe, vou postar algumas linhas sobre o que eu senti quando minha mãe não permitiu que eu fosse protestar. 
"As crianças derrubaram o rei, entretanto cresceram e quiçá pela seriedade do mundo adulto, transformaram-se no monstro corrupto que combateram. Hoje, novas crianças existem, são os netos da revolução, sem medo de mudar a nação. Juraram não se esconder, porém papai e mamãe fogem dos erros que foram acusados de cometer, e a geração virtual é trancafiada atrás de muros da alienação. Contribuem para a proliferação do estado hediondo em que vivem."
 
        
sexta-feira, 21 de junho de 2013




Lágrimas empoçam os olhos e escorrem rumo ao pescoço no mesmo ritmo do tilintar da fina chuva na janela de blindex. Os ponteiros do relógio se arrastam numa lentidão insuportável, sufocando-o na mesma bolha de alienação que revestira a pátria amada durante quinhentos anos. Zombavam dele com seu tic-tac irritante. A cada demorado segundo, percebe que a própria inércia permanece grudada em seu corpo dando toques de impotência ao já refestelado cidadão sem esperança. Afinal, nasceu errante e assim seguiu, num movimento retilíneo e uniforme, sem que qualquer asteroide interplanetário se dispusesse a tirá-lo da órbita comum.
A torneira dos banheiros pinga com a pia fechada transbordando água nos cômodos lotados e estultos. Um “inotável” desastrado terremoto derrama chocolate quente adoçado artificialmente por ladrões inescrupulosos e os faz perceber a podridão abaixo de seus pés. Tentam fugir do ambiente sórdido. Atropelam-se numa incendiária corrida rumo à liberdade inexistente nessa ditadura disfarçada de democracia. O vírus da Revolução alastra-se por todo o território. Revoltaram-se todos.

Na tentativa falha de invadir o covil dos sugadores sem limites, deixaram o aviso: o Gigante acordou. Pararam assim o país, posto que não desejavam chuteiras, gritavam por saúde e educação. Foi a aclamação dos tais que explodiu o fogo patriota no coração da nação: ou param a corrupção, ou paramos o Brasil!
terça-feira, 18 de junho de 2013





Sorrisos escondidos pelos fios longos, jogados em ondas descoloridas por sobre a mochila. Cenho franzido, sobrancelhas unidas. A dúvida inerente e inconcebível tornava inconclusa tua última obrigação antes do aclamado recesso junina já chegada a todos exceto a ela. Num desesperado ato de ver sanadas as suas dúvidas, busca, de forma latente, a resposta pelo cômodo vazio. E seus olhos se cruzam. Os dois pares castanhos, casualmente encostados no batente da porta pintada nos tons da melancolia, deixaram escapar, em sue brilho, o dúbio motivo da visita, entretanto, a íris escura, absorta em teu problema bimestral, ignora qualquer indicio da enrascada que virá acometê-la. E enfim desiste. Segue-as pelas infindáveis escadas. Três pequenos corpos circundados por cabeleiras longamente cheias: negra como o céu noturno da galáxia; ruiva como um tom claro de laranja já sujo e desbotado; castanha excêntrica tentando provar algo para si mesma.
Dois olhares trocados e já é tarde quando se percebe perdida. A insistência arranca-lhe um “sim” contrafeito. À tarde, enquanto a água lava os erros cometidos, descobre-se desejosa da noite. Seria a chance de iludir-se? Ou, quiçá provar para si mesma que não é apenas mais um clichê obsoleto? Iria finalmente opugnar os constantes redemoinhos estomacais à própria guisa, o resto seria abjeção do ato. Passa o perfume mais marcante e não escolhe a roupa – deixa a irmã incumbida de tal tarefa. Não queria se lembrar, mas queria ser lembrada. Diferente, porém igual, se pôs em marcha.
Encontra-o mais cedo que seu refestelado coração previra. O outro também estava lá. O sangue pareceu correr mais depressa pelas finas veias. Tensão. Fugiu. Escondeu-se no meio da multidão. Havia ali pessoas suficientes para protegê-la de seus contratos assinados no impulso. Acham-na. Não há escapatória. Contudo. Algo de errado invade a brisa noturna. Oito horas e seu senso lhe diz que irá cometer terrível erro. Arrisca-se. Seu canto favorito torna-se estranho. O sabor é doce, porém ela prefere o salgado, todavia sua meiguice desabrochada a faz desejar o açúcar. Confusão de sentimentos tomou conta de sua carne. O desejo tentou conduzir-lhe; a razão reagiu. Brigaram. O peito quase explodindo, foram interrompidos. Grudaram-se novamente.

Com as luzes da cidade esmaecendo, sentiu medo: pela primeira vez, não se arrependeu de um ósculo confusamente inebriante.
segunda-feira, 17 de junho de 2013
Verdade. No dicionário, principio certo; qualidade do que é verdadeiro; exatidão. Na vida, autenticidade; boa-fé; sinceridade. Definições básicas para um dos sinônimos de ‘axioma’. E, para o caso de o leitor ter dúvidas, a designação de ‘axioma’ é, basicamente, realidade. Realidade que é sempre, de uma forma ou outra, ligada diretamente à verdade, pois uma não pode viver sem a outra, são como o corpo e a alma e o espírito.
Verdade. Tão bela e culta, parece sempre ter existido, entretanto, condiciono-me a acreditar que alguém a inventou, ou pensa tê-la criado. É assim com tudo o que nos cerca - em termos de matérias e definições - só a percebemos após uma criatura tão criativa, que pôde enxergar o inaudito no trivial, mostrá-la a nós.
Doravante, deixando um pouco de lado as significações cultas escritas pelos grandes mestres da Língua, vou informar-lhes o motivo de tanta faladeira: a elucidação da razão pela qual ‘verdade’, definida ou não pelo livro de desígnios, tanto me atrai. Talvez nem eu o saiba, porém tentarei descrever esse sentimento enigmático e inexplicável que eu e a humanidade nutrimos pela verdade.
Acredito que uma estória seria a melhor forma de atingir meu objetivo, entretanto ao falar da verdade não deveríamos apenas dizer veridicidades? Quiçá uma anedota, contudo ouve-se por aí que anedotas são famosas pela sua efemeridade e nada do que é efêmero poderia ajudar-me a alcançar meu intento. Porventura, consideraria aqui narrar uma aventura verídica e longa que atende a todas as exigências minhas, no entanto prolongar-me causaria apenas sono naqueles com demasiada capacidade intelectual como também nos desprovidos de instrução. Adianto-me a dizer, então, que irei improvisar, exercendo o famoso ‘jeitinho brasileiro’.
E aqui começam os verdadeiros obstáculos, porque em um texto é difícil não aumentar o que queríamos dizer, dando mais emoção a narrativa. Todavia, ater-me-ei a não mentir ou usar de ficção.  Por falar em ficção, recordo-me de coisas da vida diária, acontecimentos corriqueiros que, de certa forma, se tornaram inusitados no contexto em que se inseria que dariam belas crônicas. Não ousarei, porém, contá-las aqui; pensarão tratar-se de uma mentira deslavada, e nada há de pior queridos leitores, que contradizer-se.
Contudo, nesse ínterim, é difícil conter o ímpeto de narrar-lhes fatos periódicos. Este impulso aflora em mim a lembrança de uma noite, daquelas em que a lua está bem alta no céu e as estrelas capazes são de iluminar todo o universo padrão e ainda um alternativo, ou vários, criados em sonhos pelas mentes férteis dos artistas que não se encontram mais entre nós, mas que pelos pensamentos e ideias tornaram-se imortais e foram elevados a outro patamar em que nós, humildes seres humanos, jamais chegaremos sequer a tocar.
Nesta noite fora marcado um encontro de amigos – eu e mais cinco marotos de minha laia - para divertimento, que com absoluta certeza seria encerrado com a maior parte de nós em estado quase que avançado de embriaguez. Lá pelas tantas da madrugada, hora em que já nos ríamos pelas ventas, passa junto a mim um doido. Convidamo-lo a sentar-se à mesa e beber da boa cachaça. Começamos então a dizer inutilidades e babaquices, conseguíamos, entretanto nos entender, assim como um louco compreende o outro. E, não sei o porquê, passamos a falar sobre a verdade; assunto que é sabido do leitor, de que gosto bastante. Lembro-me exatamente do momento em que o homem, em estado de maior desvairo que o normal, soltou meio que sem querer uma das frases mais inteligentes que já ouvi em toda a minha vida de vadio: “A verdade é tudo e é também nada. Tudo porque nós, homens, a queremos como aspiramos à boa vida. Nada porque é sabido que no mundo de hoje, poucos são os verdadeiramente sinceros. Todos mentimos, meus amigos!”.
A frase me marcou. Marca-me até hoje. Reflito sobre seus ocultos significados como um religioso reza a Deus pela remissão de seus pecados. A única conclusão a que cheguei e que, ainda assim não pode ser considerada conclusiva, é que ninguém pode afirmar-se completamente verdadeiro. Possuímos sim o desejo de sê-lo, no entanto, seria a vontade, e apenas ela isolada, suficiente para sermos fidedignos? Creio que não. Mas também não seria a mera ação que satisfaria o desejo de ser autêntico, e nem de classificar alguém como tal. Afinal, ninguém sabe o que o outro pensa e isso gera dúvida. Ninguém sabe como o outro reagirá à determinada situação e isso gera dúvida. Na dúvida, a maioria de nós mente.
Vem aí então outra questão, admitir que contou uma lorota torna a pessoa honesta? Talvez. Mas ela ludibriou outro indivíduo; seria isso ser verdadeiro? A resposta natural e provável é ‘não’.
Dessa forma, posso dizer hoje, em avançada idade e nem um pouco mais sábio que quando jovem, que temos uma verdadeira necessidade de buscarmos a verdade, acreditando que ela esclarecerá o mistério que cerca a vida e seus acontecimentos.

Dou agora elucidada a razão pela qual ‘verdade’ tanto me atrai. Deixo cabida ao leitor à missão de encontrar tal explicação no texto, deixando-o a mercê de suas faculdades interpretativas.